terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Dançando no espelho

 Demorou tanto pra entender algo tao obvio. A arte não tem o propósito de elevar meu eu nos outros, mas de apresentar meu eu recém criado por mim à mim mesmo.   

Que eu não perca mais tempo vendo meu reflexo em mim mesmo e acreditando estar me vendo nos outros.  Cansei de tentar dançar uma musica que não escuto.  Cada um que dance a sua própria musica e que, se por acaso, nos encontrarmos em uma mesma harmonia,  dançaremos juntos  em nossas próprias melodias que talvez, por mero acaso, se combinam. 

Tenho um pouco de pena de quem não consegue dançar, as vezes nem mesmo escutar, a própria musica. De todos os infernos, talvez este seja o mais miserável. Ter que  viver todos os anos de vida tentando dançar uma musica que não escuta.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O diamante dos loucos

 Não quero fazer sentido, então quero me permitir a descrever o impossível.  Este deve ser meu refugio de uma prisão lógica. Vou aqui criar meu esconderijo com paredes de agua, chão infinito de nuvem, com vista para um hospício. 

Daqui, desta vista perfeita, vejo pessoas normais.  E que outra coisa deveria haver num hospício se não eles? Então me canso. Quero subir a parede e velejar pra longe daquela vista. E mesmo que isto me pareça loucura,  ainda não é o suficiente para mim. Aqui ainda sigo a lógica intrínseca ao meu próprio texto, infelizmente. Não quero velejar nas paredes por serem feitas de água. Quero escalar paredes de agua no espaço infinito. É uma tentativa de fuga pra lugar nenhum, reconheço, pois não existe fuga pra fora da mente. A lógica me persegue mesmo aqui, então esse texto mantem alguma coerência. A lógica se impõe na minha mente como se fosse a própria vontade  de Deus  materializada em pedra, ou diamante. Bela e inquebrável. Mas é justamente por ser inquebrável que me vem a tentação de quebrar. De escrever nada com nada. Me perder em palavras soltas. Um texto sem lógica, sem nexo, mas ainda com sentimento. Quero um texto criado por um artista ou por um louco. Mas a lógica fala alto, grita e, as vezes, me cala.   Agora, calado, penso que  um louco seria, na verdade,  um artista transformando a vida em obra prima. Não seria ele a mais pura e autêntica expressão de si mesmo? Seria ele alguém que conseguiu quebrar o diamante e por isso todos  agora o chamam de louco? Não sei. 


O que sei é que os normais, aqueles que se ajoelham para a lógica e a seguem-na, entregando lhe tudo, incluindo a vida e, consequentemente, a si mesmo, Esse  agem como os verdadeiros loucos,  ou pelo menos  cegos. Eles não pensariam em escalar uma parede de água no infinito, pois isso seria logicamente impossível.  Mas não podemos culpa-los.  Não é que eles não teriam vontade. O problema é que eles nem mesmo conseguem enxergar  o diamante e é exatamente por isso que eles não têm a tentação de quebra-lo.  

O eu em palavras

 Não vou procurar sinônimos que não conheço para descrever qualquer coisa que seja, ou tentar descrever experiencias que não me interessam. Se não conheço, não sou eu. E se em algum momento me propus a me transformar em texto, que este seja autêntico. Por isso como virgulas e erro pontos. Por isso uso de palavras simples e por isso meu texto é imperfeito, sem polimento e sem um fim adequado. 

As vezes meu outro eu ainda grita no meu ouvido e me diz que eu deveria ser melhor que isso, melhor que esse erro que eu chamo de texto. Mas me propus ser autentico, e por isso ele se cala, mas não sem antes se, ou me,  envergonhar mais uma vez, e finalmente se esconde, e por um momento se retira. O que resta deve ser algo secreto, um mistério para que ninguém descubra. Para que eu esqueça ou finja nunca ter existido. Mas que por pelo menos um momento reflita meu eu sem a interpretação do eu. E se essa descrição parece complicada, ou até impossível e paradoxal,  significa que pelo menos em certa medida atingi meu objetivo.