Não quero fazer sentido, então quero me permitir a descrever o impossível. Este deve ser meu refugio de uma prisão lógica. Vou aqui criar meu esconderijo com paredes de agua, chão infinito de nuvem, com vista para um hospício.
Daqui, desta vista perfeita, vejo pessoas normais. E que outra coisa deveria haver num hospício se não eles? Então me canso. Quero subir a parede e velejar pra longe daquela vista. E mesmo que isto me pareça loucura, ainda não é o suficiente para mim. Aqui ainda sigo a lógica intrínseca ao meu próprio texto, infelizmente. Não quero velejar nas paredes por serem feitas de água. Quero escalar paredes de agua no espaço infinito. É uma tentativa de fuga pra lugar nenhum, reconheço, pois não existe fuga pra fora da mente. A lógica me persegue mesmo aqui, então esse texto mantem alguma coerência. A lógica se impõe na minha mente como se fosse a própria vontade de Deus materializada em pedra, ou diamante. Bela e inquebrável. Mas é justamente por ser inquebrável que me vem a tentação de quebrar. De escrever nada com nada. Me perder em palavras soltas. Um texto sem lógica, sem nexo, mas ainda com sentimento. Quero um texto criado por um artista ou por um louco. Mas a lógica fala alto, grita e, as vezes, me cala. Agora, calado, penso que um louco seria, na verdade, um artista transformando a vida em obra prima. Não seria ele a mais pura e autêntica expressão de si mesmo? Seria ele alguém que conseguiu quebrar o diamante e por isso todos agora o chamam de louco? Não sei.
O que sei é que os normais, aqueles que se ajoelham para a lógica e a seguem-na, entregando lhe tudo, incluindo a vida e, consequentemente, a si mesmo, Esse agem como os verdadeiros loucos, ou pelo menos cegos. Eles não pensariam em escalar uma parede de água no infinito, pois isso seria logicamente impossível. Mas não podemos culpa-los. Não é que eles não teriam vontade. O problema é que eles nem mesmo conseguem enxergar o diamante e é exatamente por isso que eles não têm a tentação de quebra-lo.